“Não compartilho meus pensamentos achando que vou mudar a cabeça de pessoas que pensam diferente. Compartilho meus pensamentos para mostrar às pessoas que já pensam como eu que elas não estão sozinhas." (autor desconhecido)

18 agosto 2024

Minha poesia de domingo VI

Fuga

Já vou indo,
aproveito a pouca luz e o frescor da manhã
            desse novo dia que já já se ilumina,
pois o caminho é longo e sem volta.

Aqui novamente ninguém jamais me verá,
já que parto com a firme determinação
            de quem deve ir, sem olhar para trás, 
sem carregar boas lembranças.

Levo somente o quase nada que tenho,
umas roupas já surradas, duas toalhas,
mais um tanto de água no cantil
             e um pouco do que comer nesse início.

Mas me livro de um peso enorme:
essa vida de ladainhas e procissões
            onde se tenta ocultar, com a lábia do vigário,
o prenúcio de uma ultrajante miséria.


(Luiz Antonio Vila Flor)

A equipe olímpica brasileira, nos jogos de Paris - 2024, andou para trás

29 julho 2024

Minha poesia de domingo V

Por motivos técnicos e operacionais essa poesia não pode ser publicada em 28/07/2024.

Clarice-me

Deixo-me permear pelo que há
            de mais fluido, de mais etéreo,
de mais elétrico e magnetizante,
no corpo pulsante da tua poesia.

Sinto milhares de capilares invisíveis
            mas energizados por magnífica força vital,
que sacodem cada uma das minhas moléculas
            como o vento encrespa as calmas águas de um lago.

Lambuzo-me com a seiva bruta e consciente
            que transporta cada letra, cada palavra, cada verso,
cada estrofe da tua poderosa e tocante poesia.

Farto-me de amor, de dor, de fé, de renúncias;
tudo estilhaçado e os cacos, líquidos, rolando ruidosos
            em um caudaloso riacho de tantas e tantas existências.

(Luiz Antonio Vila Flor)

Minha poesia de domingo IV

Por motivos técnicos e operacionais essa poesia não pode ser publicada em 21/07/2024.

Transitivo

Sou do mundo;
um dia aqui,
outro ali,
um outro acolá
e mais outro
sabe-se onde.

Quem me viu num canto,
saiba que já não estou mais lá
              e onde hoje estou,
amanhã já não estarei;
nômade, cigano,
ando por aí,
mutante, viajante,
e nesse andar vaguejante
              escrevo meus versos,
esses versos decorrentes
              de tudo que por aí vou vendo.

Minha idade?
sou velho, muito velho...
Nasci quando o Homem
              ainda era um peixe;
vi esse homem ser um sapo,
depois um teiú-branco
              e mais tarde um beija-flor.
Por fim o vi como Homem,
essa coisa que chafurda por aí,
destruindo o generoso planeta
              que o recebeu e ainda o abriga.

Terra, planeta 
             do universo navegante,
este Homem que lhe vai na carona
             vive a conspirar contra ti!
Vai te contaminando com imundices;
sem o menor escrúpulo ao te intoxicar.


(Luiz Antonio Vila Flor)

24 julho 2024

Donald Trump: Recolha-se já ao esgoto, que é o seu habitat natural

Há pouco saído da adolescência, em 1968; já havia sido atropelado pelo AI5. Nesse final de ano, os canalhas "deitavam na sopa"; então, no antepenúltimo dia do ano, um domingo nauzeante, escrevi essa alegoria para caracterizar, sob a minha ótica na época, o canalha típico.
PS: Nem passava pela minha cabeça que no século XXI eu tomaria conhecimento da existência de seres abjetos como Trump, Putin, Bolsonaro, Netanyahu, Orbán e Milei. Todos uns biltres!




18 julho 2024

Série "Estes contos que eu lhes conto" - I

O intempestivo e malcriado rompante da minha perua

Era o último sábado de julho do ano de 2007; um luminoso e agradável dia do inverno carioca. Eu era o proprietário de uma "perua" Ford Escort, já com dez anos de uso; um bem conservado, bom e confortável veículo. Por volta das onze e meia da manhã resolvi levar a belezura para uma "geral", em um posto de serviços próximo a minha residência. Começou aí minha agonia.

Estacionada, com o para–choque dianteiro coladinho no da minha perua, bem de frente, estava lá, imponente, luzidia como uma baixela de prata, uma outra perua. Tratava-se, não se impressionem, de uma francesinha de sangue azul, uma Renault Mégane Sport Tourer, motor turbo de 2 litros, com 180 cv de potência.

O motorista, posso até apostar três mariolas, não devia ser o dono daquela maravilha sobre rodas. Não; um proprietário de joia tão cintilante não seria tão insensato a ponto de estacionar seu patrimônio numa rua secundária e esburacada do subúrbio carioca, com o chão todo enfeitado de cocô de cachorro e lixo, muito lixo pela calçada (a Comlurb, como vocês sabem, é terrível), a não ser que premido por coisa incontrastável, premência esta que me faz somente colocar em risco três mariolas.

Alguns minutos antes, um vira-latas já havia batizado uma das rodas da francesa, uma preciosidade de liga leve diamantada, faiscante (cães vadios adoram delimitar seus territórios, balizando-os em rodas de carros).

Já sentado ao volante da minha perua, pensei: O imprudente motorista vai levar um susto quando vier pegar a Mégane. Mas quem foi tomado de intenso sobressalto não foi o incauto, fui eu; o diabo (ou será a diaba) da perua se recusou terminantemente a funcionar com um mínimo de decência.

Quando liguei a ignição foi um ranger danado de correias, eixos, bielas e pistões. Na primeira tentativa, nada, só aquele rilhar de mal prenúncio. Na segunda tentativa, nova rilhação, só que desta vez mais zangada. Outra tentativa; a última, se não pegar, largo essa coisa velha e volto para os meus discos dos Beatles, ideais para serem ouvidos em sábados invernosos.

Então foi um mhan nham nham nham lerdo, o que era sinal de aborrecimento da bateria. Outro mhan nham nham nham seguido de um pof pof pof assustado e logo a seguir um tranqüilizador vrom vrom vrom consoante com minhas exaltadas compressões no pedal do acelerador. Aí tirei o pé e seguiu-se o velho conhecido tuh tuh tuh tuh entressachado por um ou outro pof pof pof.

Meu coração, que já apresentava uma leve taquicardia, serenou. Fixei o cinto de segurança, liguei o rádio, previamente sintonizado na JB, engrenei a primeira e acelerei suavemente, todo respeitoso. Aí veio o pânico. Foi uma desconjuntada sinfonia de tuhhh tuhhh, vrommm, pooof pooof pooof, tummm tummm, tuhhh tuhhh, pooof pooof pooof, tummm e depois de um solavanco atrevido e desrespeitoso, a perua danada "morreu".

Voltaram as palpitações no peito e um suor frio se anunciou no meu rosto esfogueado. Era já uma pontinha de exasperação, uma pontinha de nada. Dei umas quatro respiradas profundas e parti para a derradeira tentativa. A resposta da maldita perua foi um debochado mhan nham nham nham indolente e preguiçoso, que denotava toda sua insubmissão ao dono, todo seu escárnio.

Desisti de dialogar com aquela máquina insensível, insurgente, sediciosa, que naquele momento devia sim era estar acometida de uma impolida crise de inveja da Mégane Sport Tourer, que ainda há pouco estava, majestosa, tão pertinho dela. Se bem que, reconheço, ultimamente não a tenho tratado como ela merece. Pensando bem, semana que vem vou mandar fazer aquelas intervenções nos pára-choques e nos espelhos retrivisores, que ela tanto tem reclamado.

Ainda pensei em convocar a presença de Zenóbio "Cará", o mecânico mais respeitado da região, mas recuei, lembrando da placa de papelão, escrita com "pincél pilot", que milagrosamente continua presa por um pedaço de barbante roto no portão de madeira da sua oficina, na rua de baixo.

Na placa está escrito, pelo próprio Cará "Não mecho nos carro com engessão, só nos carburado" (a vírgula é uma intromissãozinha minha na frase de Zenóbio).



16 julho 2024

Ban Gu: "Uma imagem vale mil palavras"

Certa vez, ainda bem menino (no início da década de 1960), li em um exemplar da revista Seleções Reader's Digest, da qual meu pai era assinante naquela época, a frase "UMA IMAGEM VALE MIL PALAVRAS". Mas o que me chamou a atenção foi a quem era atribuída a autoria: Ao invés de atribuí-la à Confúcio, o editor da revista à atribuía à Ban Gu.

E quem foi esse Ban Gu? (Lembramos que o nome desse eminente chinês nada tem a ver com o nome do bairro carioca, Bangu; que como é sabido por todos tem outra origem. Trata-se apenas de uma bela coincidência).
Montagem para a imagem disponível de Ban Gu.

Nascido no ano de 32 do século I (dC), Ban Gu era o filho de Ban Biao (3 - 54 dC), um intelectual e antiquário que recebeu uma nomeação do imperador Guangwudi durante os anos iniciais da restauração da dinastia Han. Como o patriarca não era adepto da vida na corte, alegou problemas de saúde (o que não era uma inverdade, tanto que morreu com apenas 51 anos) e pediu sua aposentadoria, indo para o interior, fixando-se em uma localidade que hoje corresponde à Província da Sanxi. Ban Biao, depois de aposentado, dedicou-se a pesquisar e coletar registros e outros elementos para, de forma independente, para dar continuidade ao que é chamado de "o Shiji" ou "A Grande História de Sima Qian sobre a China", que iniciada nas primeiras dinastias havia sido interrompida aproximadamente na metade da dinastia Han.  
Imagem disponível de Sima Qian.
 Ban Gu notabilizou-se como poeta, historiador e político. Quando seu pai morreu ele tinha apenas 22 anos, não obstante, tomou para si a responsabilidade de continuar a escrever a história da Dinastia Han e para isso obteve uma designação oficial. nessa empreitada ele contou com a prestimosa ajuda da sua irmã Ban Zhao, também poeta e historiadora. 
O nome Ban Gu em caracteres chineses.
Mais que um historiador, Ban Gu foi um historiógrafo*. Ele era comprometido em representar a dinastia e o império Han da forma e do modo mais factual possível (ele era admirado e respeitado por ser extremamente meticuloso e objetivo em sua narrativa).

Referências à Dinastia Han.
Registro da prática do futebol na Dinastia Han.
Esse compêndio com a organização de todos os documentos existentes e a narrativa de Ban Gu (depois complementado por Ban Zhao), é conhecido como "Han shu", de forma literal “Documentos de Han”, ou "Livro de Han".
O "Livro de Han".
Devido à envolvimentos políticos, Ban Gu foi preso e condenado à morte (sob tortura), o que aconteceu quando tinha entre 59 e 60 anos, no ano 92 (dC); daí ter sua irmã, Ban Zhao, dado continuidade ao seu trabalho.
Montagem para a imagem disponível de Ban Zhao (à mesa), pintada por Gai Qi.



Fontes: Wikipédia / Encyclopædia Britannica / Historia y Biografias.

Minha poesia de domingo VI

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