“Não compartilho meus pensamentos achando que vou mudar a cabeça de pessoas que pensam diferente. Compartilho meus pensamentos para mostrar às pessoas que já pensam como eu que elas não estão sozinhas." (autor desconhecido)

23 junho 2024

A minha poesia de domingo I

Uma sexta-feira, sábado adentro,  em 1968

Não sei bem que horas são
              (meu Roscoff parou às nove),

mas observando a minguante,
já bem altinha e clareante,

podem ser duas, duas e meia,
talvez  três, três e quinze,
hora de "levantar o acampamento"
              pois a vida não termina hoje.

Ainda que me agrade sobremodo
              o sopro delicado da noite fresca,
que leva para além da rua deserta
              meus relaxantes vapores etílicos,
impregnados desse rum ordinário
             que tanto me aviva a alma,
vou pedir a conta e "picar a mula",
que a hora é essa e o sono já chega.

Todavia já é madrugadinha,
não há mais lotação no ponto
              e no táxi vou deixar uns vinte mangos;
acho que vou a pé, nesse fresquinho.
Não, a pé os meganhas me arrocham
              ali pela curva da ponte velha;
Subtraem a minha grana e o meu Roscoff.

Melhor é negociar na pracinha
              uma corrida com o Dino, o pai,
pois com o Dino filho é doloroso;
talvez saia por quinze, dezessete...
É isso ou perder cento e trinta
              (o salário minguado da semana)
              para os meganhas degenerados
              e ainda levar uns sopapos doídos.

Espera... Olha que já me esquecia!
Posso muito bem passar a noite
              na casa da Zulmirinha, minha prima
              recém desquitada, que mora logo ali,
depois da subida do Cine Palácio.
Mas a prima deve estar dormindo
              e a insone tia Bilu não me recebe,
temerosa do apetite da filha.

Vou é logo falar com o Dino velho,
entrar no DeSoto cinquenta e um
              e cochilar no estofado amaciado,
tratado com benzina pelo florentino.
Dez minutos na estrada e pronto;
me safo dos meganhas cretinos,
de tocaia na curva da ponte velha
              e durmo tranquilo, pois já é sábado.

Rio de janeiro - RJ, Junho de 1968, Luiz Antonio Vila Flor

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