Uma sexta-feira, sábado adentro, em 1968
Não sei bem que horas são
(meu Roscoff parou às nove),
mas observando a minguante,
já bem altinha e clareante,
podem ser duas, duas e meia,
talvez três, três e quinze,
hora de "levantar o acampamento"
pois a vida não termina hoje.
Ainda que me agrade sobremodo
o sopro delicado da noite fresca,
que leva para além da rua deserta
meus relaxantes vapores etílicos,
impregnados desse rum ordinário
que tanto me aviva a alma,
vou pedir a conta e "picar a mula",
que a hora é essa e o sono já chega.
Todavia já é madrugadinha,
não há mais lotação no ponto
e no táxi vou deixar uns vinte mangos;
acho que vou a pé, nesse fresquinho.
Não, a pé os meganhas me arrocham
ali pela curva da ponte velha;
Subtraem a minha grana e o meu Roscoff.
Melhor é negociar na pracinha
uma corrida com o Dino, o pai,
pois com o Dino filho é doloroso;
talvez saia por quinze, dezessete...
É isso ou perder cento e trinta
(o salário minguado da semana)
para os meganhas degenerados
e ainda levar uns sopapos doídos.
Espera... Olha que já me esquecia!
Posso muito bem passar a noite
na casa da Zulmirinha, minha prima
recém desquitada, que mora logo ali,
depois da subida do Cine Palácio.
Mas a prima deve estar dormindo
e a insone tia Bilu não me recebe,
temerosa do apetite da filha.
Vou é logo falar com o Dino velho,
entrar no DeSoto cinquenta e um
e cochilar no estofado amaciado,
tratado com benzina pelo florentino.
Dez minutos na estrada e pronto;
me safo dos meganhas cretinos,
de tocaia na curva da ponte velha
e durmo tranquilo, pois já é sábado.
Rio de janeiro - RJ, Junho de 1968, Luiz Antonio Vila Flor
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